Opinião, Contos & Crônicas

Compartilhe:  
A Professora e o Flanelinha
por: Grazy Nazario
05/04/2013

Ao ir a um supermercado, uma professora deixou seu carro, um Uno Mille ano 1997 na frente do comercio, logo a mesma foi cumprimentada pelo “flanelinha” que disse:

-Fique tranquila dona! Eu cuido do seu carro.

Imediatamente, a zelosa professora alertou:

-Então fique mesmo por que este é o meu único bem, uso ele todos os dias para ir trabalhar, e não tem seguro.

A professora ainda visivelmente preocupada fez rapidamente as suas compras. Em pouco tempo estava na porta do supermercado e sentiu um alivio por ver seu carro estacionado no mesmo lugar, acionou o alarme e começou a descarregar as poucas sacolas do carrinho. Logo o flanelinha começou a ajuda-la enquanto disse:

- A senhora ainda continua trabalhando na mesma escola professora?

- Sim. Por quê? Respondeu ela assustada.

-Você não se lembra de mim professora? Fui seu aluno no 2ºgrau.

- Acho que sim, disse ela tentando se lembrar dele. Sei quem é você, até que não me dava muito trabalho. E logo em seguida com o semblante triste perguntou:

- Mas porque você esta olhando carros neste estacionamento? Sempre foi tão inteligente, tinha um grande futuro, talvez cursar uma Universidade!

- Então professora, até pensei em fazer isto. Queria ser professor, mas depois vi que não era um bom negócio.

- Mas por quê?

-Desde que eu conheço a senhora a mais ou menos 10 anos, a senhora esta com este mesmo carro, usa esta mesma blusa e reclama dos mesmos problemas. Precisa dar varias aulas por dia, trabalhar em duas ou três escolas e só recebe oito reais por aula. Enquanto eu aqui me divirto, não tenho responsabilidades com direção ou pais de alunos, e recebo em media 90 reais por dia.

-Nossa! Tudo isso?

- Trabalho duro também. Olho os carros, ajudo as carregar compras, e olho os carros mais uma vez. As vezes se alguém bate ou coisa do tipo, então eu tenho que sumir por um tempo ou o dono do carro me pega! Mas eu fico no prejuízo porque não posso trabalhar.

-Como é? Disse ela preocupada.

-Mas não se preocupe professora, eu não ia deixar ninguém fazer nada no seu carro, a senhora é gente fina. Só uma vez não deixou eu entregar um trabalho depois da data, mas tudo bem, já te desculpei.

- E quanto tempo você fica aqui pra ganhar isto? O dia inteiro, aposto! – Perguntou a professora.

- Nada! Quando fico o dia inteiro recebo muito mais, é porque tem o adicional noturno, o pessoal tem mais medo a noite, então a caixinha é sempre maior.

A professora ainda atordoada com as informações, entrou no carro e começou a procurar algum trocado para o “garoto”. Logo olhou no relógio e começou a chorar.

- Calma professora. Não precisa chorar porque não tem dinheiro, não precisa pagar hoje ta.

-Não é isto meu filho! Esqueci que hoje tenho aula este horário, sou categoria “O”, já tive duas faltas este ano, se eu tiver mais uma falta, sou mandada embora sem direito a nada, inclusive de pegar mais aulas este ano e no próximo!

- Meu deus! E vai viver de que? Lamentou o flanelinha.

- Não tenho alternativa. Vamos fazer uma sociedade 

Texto por: Grazy Nazario.

 



Mais notícias relacionadas a Opinião, Contos & Crônicas

• Mulheres de Roma - Quando algo bom acontece é preciso reconhecer
• O diário de uma borboleta
• Virtudes
• Poema aos coríntios
• Aos amigos Sapos, Cigarras e Vagalumes!




Deixe seu comentário